Para quem já pegou uma onda, já sabe. É complicado explicar o que acontece ali. Talvez por isso tantos surfistas se embaralhem quando tentam justificar o por que acordar às 5 horas da manhã, enfrentar a água gelada, remar até não aguentar mais só para, no final das contas, ficar em cima de uma massa d’água em movimento por alguns segundos.
É absurdo, porém, faz mais sentido do que qualquer outra coisa. Isso porque o surf não é somente um esporte. É estar vivo, é sentir a vida inteira passar pelo corpo de um jeito que a gente sente poucas vezes no cotidiano.
Além do romantismo, do estereótipo e da névoa de misticismo que rodeia o surf, há algo de peculiarmente humano nisso tudo. O surf mexe com a cabeça, com o coração, com a fisiologia, mexe com a alma. É por isso que, surfar, vicia. De forma linda e profunda, de forma artificial e pura.

O surf e o corpo: força, equilíbrio e saúde
Mas, antes de continuar a enfiar o quilo no que o surf faz com a sua cabeça, não posso esquecer que o surf também transforma o corpo de uma maneira que nenhum outro estilo de vida esportivo faz. Poucos esportes são tão completos quanto o surf. Surf exige explosão muscular para sair do fundo e entrar na onda, força nos ombros e braços para remar, core forte para manter o equilíbrio em pé. Cada manobra, cada desviada, cada ajuste do peso em manobras específicas, trabalho de músculos que a gente nem sabia que tinha.
A resistência cardiovascular agradece também. Além desde que você pega muita onda, os dias que você sai da praia e rema o dia inteiro vão te deixar cansado, com a pulsação mais rápido, o fôlego mais fundo e a capacidade pulmonar maior. O contato com o mar turbinar o sistema imunológico. O surfista pega menos doença, e é uma pedra. É um corpo adaptado ao sal ao vento ao frio a luz do sol, ele regula seu ritmo circadiano e turbina a produção da vitamina D.
Surf e mente: uma terapia sem divã.
Mas é que a mágica do surf, a verdadeira, acontece na cabeça. Surf é presença. Não dá para surfar pensando na conta que venceu ontem ou na reunião que vai acontecer amanhã. No outside, esperando a série, a cabeça esvazia. É um tipo de mindfulness que não precisa de app para acontecer. É só você, a prancha e o horizonte.
Estudos já demonstraram que atividades aquáticas diminuem drasticamente os níveis de cortisol, hormônio do estresse. O simples fato de estar em contato com o mar já altera neurotransmissores como dopamina e serotonina, responsáveis pela sensação de bem-estar. Mas surf não é só isso, porque tem adrenalina. Cada gota d’água que espirra no seu rosto quando você rasga a parede da onda é um banho químico de hormônios que limpa o cérebro.
É por isso que surfistas saem do mar com um sorriso que parece tatuado. Porque mão importa quão ruim esteja a vida fora da água, na hora que você está ali, dropando, tudo se dissolve. É quase um reset interno. O mar te coloca no eixo, te mostra o que realmente importa.
O surf como vício bom
Dizem que o surf vicia. E vicia mesmo. Mas não do jeito que estraga sua vida; daquele que te constrói! Constrói novas conexões cerebrais, fortaleça a disciplina, traz humildade. Porque não importa quem você é na areia, o mar não quer saber do seu título, da sua carteirinha ou da sua conta bancária!
Uma das coisas mais fascinantes, e nada surpreendentes, sobre o surfe é o quanto ele vicia. É um esporte sem fim, um ciclo que se retroalimenta a cada onda. A adrenalina que invade o corpo ao dropar é tão intensa que, ao fim da onda, fica sempre a sensação de que faltou algo… mais uma. E é exatamente isso faz a surfista virar e remar de novo, e de novo, como se o oceano fosse um campo infinito de possibilidades (e seus braços, máquinas incansáveis). Quem surfa entende: sair da água, especialmente com boas ondas rolando, é quase um sacrilégio. O surfe não termina, ele só pausa, até a próxima série.
Surfistas moldam sua vida em função das ondas. Mudam o trabalho para ser mais livre, escolhem onde viver perto da água, gastam o que podem em pranchas e viagens. Para quem não entende, isso é obsessão. Mas para quem sabe, é só uma prioridade muito bem colocada!
Porque depois que você sente aquela gota escorrer do queixo, ouve o barulho do tubo fechando e se sente flutuar sobre algo tão poderoso, é impossível aceitar o morno. O surf te faz querer mais. Mais vida. Mais natureza. Mais conexão. Mais adrenalina boa no sangue.
John John Florence
E ninguém traduz isso melhor do que John John Florence. Nascido no North Shore de Oahu, Havaí, praticamente em frente a Pipeline, John John foi forjado pelas ondas antes mesmo de compreender o mundo.
Ele não é só um dos surfistas mais talentosos que o planeta já viu, é também alguém que leva o surf para além do esporte. Para ele, é uma filosofia de vida. John John não fica só pegando ondas em campeonatos. Quando não está competindo, ele está explorando: velejando em seu catamarã por ilhas remotas do Pacífico, escalando montanhas geladas ou correndo trilhas que poucos teriam coragem.
Ele entende o surf como parte de algo maior: um modo de viver em harmonia com o planeta. Cada onda surfada é um lembrete da pequenez humana diante das forças da natureza. Cada sessão é um convite para respeitar o oceano, e, por consequência, tudo que depende dele. Talvez por isso John John tenha criado a Florence Marine X. Não é só uma marca de roupas. É um manifesto: fazer equipamentos que aguentem o que ele exige do corpo e do ambiente. Não para parecer surfista, mas para realmente viver do lado de fora. Para que a aventura seja o centro da vida, e não um passatempo eventual.

O surf ensina mais do que manobras
Quem surfa entende. O surf ensina paciência. O surf ensina a esperar a série certa. Ensina a aceitar que nem sempre vem, mas que quando vem, é só sua. Ensina também a cair, porque você vai cair, e muito. Vai tomar caldo, vai engolir água, vai raspar no reef. E vai subir de novo no pico, porque no fundo sabe que vale a pena.
O surf ensina coragem. Porque, sim, às vezes dá medo. Quando o mar sobe, o coração dispara. E aí você sabe quem é. O medo não vai embora, você aprende a conviver com ele, a respeitar, a deixar ele te manter alerta, mas não no controle.
Ensina desapego. A onda quebra e passa. Não volta. Não adianta se lamentar pelo drop que você perdeu. Tem que olhar para frente, remar de novo e esperar a próxima. Isso, sozinho, é uma metáfora suficiente para a vida.
E o que tem isso a ver contigo?
Talvez você nunca tenha subido numa prancha. Talvez só admire quem faz. Mas a verdade é que o surf é só um canal para algo maior: o chamado de viver lá fora. De sair do automático. De se testar.
Pode ser o surf, pode ser remar, velejar, correr na montanha, escalar, pedalar em estradas que parecem infinitas. O importante é quebrar a rotina que te prende a telas e reuniões que nunca acabam.
O corpo foi feito para se mover. A mente foi feita para ser desafiada. E o espírito, para se maravilhar com o mundo. O surf é um dos jeitos mais completos de viver tudo isso ao mesmo tempo – mas não o único. O mar é só um dos terrenos disponíveis para quem quer sentir a vida pulsando.
O desafio que fica
Então, se há algo que esse texto quer deixar, é um convite, ou talvez um desafio. De fazer algo que faz tremer. De buscar algo que te faça sentir o coração bater rápido. Que faz o sangue ferver. Transpirar. Que exige que, por um instante, a mente pare de se preocupar tanto. Que te faz sentir pequeno. Que te coloque em contato com algo maior.
Se for o surf, ótimo. As ondas estão lá, quebrando dia após dia, esperando por você. O mar não liga se você é iniciante ou campeão mundial. Ele trata todo mundo igual.
Mas se não for, tudo bem também. Que seja a trilha, a bike, a prancha de stand up ou o caiaque. O importante é viver do lado de fora. Respirar fundo. Se molhar. Sentir o vento no rosto e lembrar o que significa estar vivo.
Porque no fim das contas, não é sobre performance. Não é sobre quem pega a onda maior ou quem chega primeiro no cume. É sobre ter histórias para contar. Sobre rir de si mesmo. Sobre se orgulhar das cicatrizes. É sobre chegar em casa cansado, sujo, queimado de sol – mas completamente satisfeito!
A natureza está lá fora, gigantesca, poderosa, bela. Não fica te esperando. O tempo passa, e cada dia é uma chance a menos de descobrir o que existe além do portão.
Então bora. O mar está chamando. As montanhas também. E a vida, ah, a vida acontece exatamente aí: no instante em que você escolhe sair da zona de conforto e se jogar.
Vai ficar parado?